Ele era uma espécie de Zeca Pagodinho da galera. Adorava um bar fuleira, um cabaré labrojeiro, uma puta fácil, cerveja gelada e música. De Jackson do Pandeiro a Waldik Soriano, um ecletismo que só perdia pra mim hoje. Meu pai era do tipo comunista, o que era dele, era dos outros. Isso eu não puxei a ele, graças à Deus. Vivemos os melhores e os piores anos de nossas vidas com meu pai. Ele era estranho comigo, não conversava, não me olhava nos olhos. Uma vez eu ouvi ele dizer a minha mãe que achava que eu ia ser viado.
Era contra eu ir à missa todos os domingos. Como todo ateu, meu pai achava aquilo uma perda de tempo. Hoje eu penso igualzinho a ele. Um dia vi meu pai chegar bêbado em casa, era madrugada, ele sentou no sofá, eu sentei perto dele e ele sorriu, por alguns segundos ele foi o pai que eu queria que ele fosse. Nós nunca fomos amigos. Não sei porque razão, criou-se entre nós uma barreira, um bloqueio, ele nunca me ensinou a fazer a barba, nunca me levou ao estádio de futebol, até me obrigou a mudar de time. O filho tem que torcer pelo mesmo time do pai- Dizia imperoso. Grandes merda de Vasco.
Ele não escondia sua preferência pela minha irmã mais nova. Eram carne e unha. Quano ele morreu eu não estava perto. Nos despedimos no dia em que ele viajou e depois disso só no cemitério. Um amigo músico fez uma homenagem a ele no dia do velório. Claro, a música Amigo de Roberto Carlos foi a escolhida. Tempos difíceis aqueles. Com ele aprendi tudo que não deveria fazer com a esposa e filhos e tudo que deveríamos fazer pelo próximo. Aprendi sobre o bem e o mal, sobre arrogância e humildade. Saudades suas pai.
Nenhum comentário:
Postar um comentário