23 junho 2009

S U R R E A L


Em um futuro não muito distante, me vejo chegando em casa encontrando com meu filho de 6 anos brincando com uma máquina que produz imagens holográficas de personagens de ficção científica, com som e imagem em qualidade nunca antes imaginada. Vendo ele em êxtase metendo bala nos coleguinhas de mentira, eu pergunto:

- Que brinquedo é esse filho?!

- Como assim pai? Esse é o X-Box 3 Plus Master Tampa...

- Ah, aquele vídeo game que você me pediu no Natal?

- Vídeo game? O que é isso?

- Ah, deixa, era como a gente chamava nossos ATARIS.

- Quem mané era esse OTÁRIO, pai?

- Não é OTÁRIO, é ATARI filho...

- Ah...sim

- Bom , o ATARI foi o melhor vídeo game que eu já tive. Era uma espécie de bizavô, não, tetravô, não, um ancestral dessa máquina aê... Era craque no River Ride.
- River Ride?

- É, um jogo muito famoso igual ao Pacman...

- Pacman?!

- É come-come, nunca ouviu falar?!

- O apelido que o senhor deu pra vovó?!

- Fica na tua moleque...

- Ah, tá... Não, nunca ouvi falar.

- Bom, deixa... Posso jogar uma com você, filho?!

- Pode sim pai. Eu serei o pirata mercenário intergalático, blz?!

- Ah, sim, claro... E eu filho? Vou ser o quê?

- Bom, o senhor pode ser o meu macaco cibernético...

- Macaco cibernético?! O que o macaco cibernético faz?

- Ele salta pai. Ele salta...só isso.

- E como faço para saltar?!

- Aperte Ctrol+G+Scroll+Pause+F#+código de série!!!

- Casca de quê?

- Ah, pai, você tá me atrapalhando...

- Blz, filho... jogamos outro dia.

Saio cabisbaixo enquanto ele continua matando inimigos em série gritando aos berros como se tivesse bebido refrimijo:

- Morre filhos da puta cósmicos, morre canalhas flamenguistas e americanos da via-Láctea distante!!!

Fico pensando Onde eu errei?!. Tinha que fazer algo antes que meu filho virasse um delinquente. Me dirijo ao registro e desligo a força elétrica.

- Paaaaiiiiii !!!!

- O que foi filho?!

- Faltou luz e eu nem consegui salvar meu jogo!!

- Que pena filho... Tenho uma idéia!!

- Qual?!

Corro até a dispensa, abro um baú, fico na dúvida entre o Ferrorama, o pogo-bol, o pião, o Gênius, o pirocóptero, o Resta Um, o War, o Banco Imobiliário, o Ioiô Master da Coca-Cola... Mais eis que surge ela, entre a espada do Lion e o F-14 dos Comandos em Ação, a que nunca em geração alguma deixará de ser reconhecida: a bola vermelha Canarinho com aquele slogan A Bola que Faz o Craque.

- Filho, vamos bater uma bolinha?!

- Puxa pai, você tem uma bola oficial?

- É filho, essa bola eu ganhei do seu finado avô Neto, no meu primeiro campeonato juvenil lá nos Cordões...

- Cordões?

- É filho, um condomínio fechado onde só morava elite lá em Mossoró. O povo da Nova Bethânia tinha inveja de nós. Éramos até rivais do Rabo da Gata da Boa Vista!!

- Ah, sim... Legal pai, vamos jogar.

- Claro filho.

Daí passamos uma tarde inteira de sábado jogando futebol. Ele sai com as pernas feridentas, a roupa rasgada e porca e o cabelo cheio de poeira. Eu saio quase infartando, sento na cigarreira peço uma cerveja, dois espetinhos de coração e uma Crush (sim, ela voltará!!) para o moleque. Ele sorri me agradecendo pela tarde inesquecível e nós enfim, viramos pai e filho.

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