Sem CONDIÇÕES

Quando eu era estudante de veterinária lá em Mossoró, meu tio Calandrino* me convidou para ir uma tertúlia no Carcarás do Asfalto (na época, clube dos motoqueiros mais badalado da cidade). Eu estava debutando na vida acadêmica, queria experimentar de tudo e tio Calandrino era uma espécie de ícone farrista para os sobrinhos. Só porque tinha uma mobilete 1982, se achava "motoqueiro" e tals. Chegava nos eventos, deixava a La Poderosa no cantinho, vestia sua jaqueta de Rocky Balboa e saía tirando uma ondinha com a galera.

Depois de aceitar o convite de pronto, pegamos um táxi (pensava que nós tínhamos ido de mobilete?! É ruim heim) e fomos a tertúlia. Estrelando: Bartô Galeno, o rei do brega. Para meu tio, Bartô Galeno era praticamente um Bono Vox do sertão. "Uma riqueza!!", ele dizia. Entramos no clube, ele pediu uma latinha de Pitu e uma coca-cola. Recém iniciado na vida alcólica, fui de Sapupara Limão. The Fevers, Roberto Carlos, Waldick Soriano, entre outros baluartes do brega, faziam o fundo musical do encontro de amigos quarentões.

Lá pras tantas, mais de 1h de atraso, eis que um camarada de chapéu panamá anuncia o show do rei. Todos gritam em uníssono "Bartô!! Bartô!!. As luzes do palco se acedem, a banda toca a introdução de Voltei. A velha guarda vai ao delírio. Ele sobe no palco completamente incoordenado, jaqueta preta, segura o microfone com as duas mãos, respira fundo, sopra e diz: "Tem condições não!!". Todos se olham incrédulos, Bartô deixa o palco escoltado pela segurança. Permanecemos na festa, chegamos em casa às quatro da madrugada completamente embreagados. Ressaca monstra aquela.