Bidu* era um pequenês de 18 anos**. Quando Cinthia*, filha de Dona Eliane* nasceu, Bidu era só um filhote que mal conseguia segurar o xixi na bexiga. Cinthia foi da pré-escola ao pré-vestibular e Bidu lá, firme e forte. Uma virose aqui, outra ali e Bidu sempre se recuperava com a mesma força de um certo vice-presidente acolá.
Só a doença do carrapato ele teve três vezes. Sebastião, motorista de Dona Eliane, costumava dizer: “De cachorro ele só tem o corpo, o juízo é de gente”. E era mesmo. Como de praxe, ele me odiava. Ontem foi a última vez que nos vimos focinho a focinho. Ele chegou nos braços do empregado, não conseguia andar sozinho.
Estava dispnéico, coração fraco, pulso quase inexistente. Na auscuta cardio-respiratória a confirmação: Edema pulmonar. Fiz um diurético mais o prognóstico era péssimo, não tive outra saída se não propor a Eutanásia. Dona Eliana relutou e optou por não fazê-lo. Inexplicavelmente não insisti no procedimento e respeitei a decisão.
Enfiei um cateter intravenoso no animal e ensinei D. Eliane a fazer morfina na veia do animal. Hoje cedo ela me ligou: “Doutor, Bidu morreu dormindo. Estamos todos de luto. Muito obrigado.” Um nó na garganta me impediu de agradecer, fiquei mudo por um segundo. A ligação caiu. Adeus Bidu, o cachorro mais gente que conheci.
* Nomes fictícios para pessoas reais.
** Se fosse humano, teria 126 anos.
2 comentários:
Eu teria tido a mesma reação de Dona Eliane. Deixaria o Bidú viver até que os anjos o levassem.
Acho que você agiu certo em não insistir na eutanázia...
Antes dos anjos o levarem, a Santa Morfina cuidou para que ele viajasse sem dor... Não insisti na Eutanásia porque sabia que ele não ia demorar muito. Agora imagine um cão com um carcinoma articular degenerativo, sentindo dores em todas as articulações. Esse sofrimento pode durar meses. Respeito sua opinião japa, mais na Medicina não existe romantismo. A eutanásia é em alguns casos, é o mais "digno" a ser feito.
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