- Doutor, vim até aqui pedir a sua ajuda.
- Pois não, em que posso ajudá-la?
- É que meu cachoro é um seboso pervertido...
- Como assim?!
Ela recuperou o fôlego, fez cara de choro e continuou:
- Além de cavar enormes buracos, destruir minhas plantas, rasgar o sofá da sala, fugir com a roupa do varal, derramar a água da própria vasilha, espalhar a ração pelo chão, comer as próprias fezes, ele ataca minhas visitas e se pendura nas pernas enquanto faz "coisas" obscenas...
Respirei fundo tentando disfarçar o riso.
- Bom, bem, humm... Qual a raça e a idade dele?!
- É um labrador de 6 meses, doutor.
Nessa hora, minha cara de pena foi explícita.
- Veja bem, exceto a coprofagia (hábito de comer as próprias fezes), normalmente filhotes dessa idade fazem tudo isso que a senhora mencionou. O ideal é que a senhora leve-o a um bom adestrador que faça ele aprender determinados comandos...
- Comandos?! Como assim?!
- É como levar o seu cão a pré-escola, lá ele vai aprender a lidar com seus impulsos, tipo, obedecer a certas regras, entendeu?!
- Humm, sei... e quanto tempo pode durar isso?!
- Às vezes é rápido, outras vezes pode demorar um pouco, 3 ou 4 meses.
- O quê?! E minhas plantas?! Meu sofá?! Meus chinelos de borracha?! E as visitas?!
Foi quando eu pensei em voz alta:
- E eu com isso?!
- O quê?!
- Hã?!
- O senhor disse alguma coisa?!
Naquele momento, num ímpeto incontrolável de demonstrar superioridade e alavancar meu ego diante do sofrimento daquela dodoca fresca e sem sal, tasquei a seguinte palestra:
- Ah, sim, é que lembrei de uma adestradora inglesa chamada Bárbara Woodhouse, autora de livros sobre Comportamento Animal, onde ela sempre defende a tese de que a educação do animal começa no domicílio, e que a rigor, todo cão é espelho de seu dono...
Ela me interrompeu súbitamente e com brado de pura ofensa, me indagou:
- O senhor por acaso acha que como M-E-R-D-A ou T-R-E-P-O nas pernas de minhas visitas?!
Continua...
Um comentário:
ela trepa mesmo nas pernas das visitas?
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