23 julho 2009
Cão SORTUDO
Uma senhora vestida de tolha de mesa de pastelaria, uns 50 anos, com bobis na cabeça, entra no meu consultório com um Pug de codinome Bartolomeu*. Ela senta, sorri e diz com voz aflita:
- Doutor, meu cachorro não tá bem, eu chamo e ele não atende...
- Qual a idade do seu cão? - Pergunto.
- Um ano e meio no máximo.
- E ele sempre se comportou assim?
- Não, no início ele vinha, balançava o rabo e tals.
Examino o animal e com um simples teste de ambulatório percebo um grave problema.
- Seu cão tem surdez bilateral. - Boto sem cuspe.
- Como? E cachorro fica môco?!
Respiro fundo e completo.
- Fica sim, algumas raças têm predisposição genética...
- Pré o quê?
- É que pais que cruzam com filhas, podem gerar proles com alguns problemas.
Ela faz cara de triste e diz:
- Quer dizer que todas as vezes que eu dizia que o amava, ele não ouvia?
- Bem, talvez no início...quem sabe ele...
Ela deixa uma lágrima cair.
- Doutor...
- Oi?!
- Quer dizer que ele nunca ouviu o Zezé di Camargo cantar?
Penso em voz alta.
- Que bom pra ele.
- Hã?!
- Disse: que bom que ele tem uma dona tão carinhosa!!
- Existe aparelho auditivo para cachorro?
- Não, pelo menos no Brasil.
- Que pena...
Ela se despede com ar de quem carregava um paciente terminal. Bartolomeu* voltará para fazer alguns exames, mais adianto, acho que o animal viverá melhor se não tiver que ouvir certas coisas. Égua!!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário