Plantão VETERINÁRIO

23:15h PM

O telefone toca.

- Hospital Veterinário Amigo Bicho, boa noite.

- Alô, quem fala?!

- Doutor Alexandre, pois não?!

- Oi, eu sou a dona de Susy, a gatinha que vai para cirurgia amanhã.

- Pois não, em que posso ajudá-la senhora?

- Eu queria saber como ela está...

- Ela tá bem, já tirei a água e comida, ela vai ficar em jejum até amanhã.

- Ah, sim, teria como eu falar com ela?!

- Como?!

- Eu queria dar uma palavrinha com a Susy.

- Não entendi.

- O senhor colocar o telefone próximo a ela e liga o viva voz...

- Senhora, é que...

- Por favor doutor, ela vai conhecer minha voz, tenho certeza, não vou demorar.

Pensei durante longos dez segundos no papel ridículo que eu ia fazer, autorizei um breve diálogo e levei o telefone sem fio até o internamento 2, apertando na tecla viva-voz do aparelho.

- Pronto senhora, ela está de frente ao telefone.

- Obrigada doutor. Oi minha linda, mamãe tá aqui morrendo de saudade.

A gata olhava para o aparelho com desdém.

- Escute, mamãe vai buscar você amanhã e vai comprar aquele filezinho de peixe que você tanto gosta, a sua ração preferida e vai trocar seu curativo todos os dias...

A gata continuava olhando com cara de nojo para o aparelho.

- Agora mamãe precisa desligar porque o doutor está ocupado, ok?!

Eu agradeci aos céus a decisão dela de encerrar o diálogo. Na mesma hora, meu auxiliar passou no corredor as gargalhadas.

- Miau - respondeu a gata em um miado baixo e sem graça.

- Doutor, queria agradecer ao senhor, acho que ninguém mais faria isso. - Ninguém mesmo - pensei sozinho.

- De nada senhora, se quiser falar com ela de novo é só ligar.

Ela desligou o telefone eu fiquei durante 30 segundos olhando para gata se lambendo dentro do gatil, imaginando até onde minha ingenuidade ainda iria me levar um dia.