Vida e MORTE

Vida era uma cadela pitbull de 6 anos, com 75 dias de gestação. Normalmente ela deveria ter parido a pelo menos 10 dias, fato que preocupou sua proprietária, uma senhora de sessenta e poucos anos, dona de uma simpatia sem igual. Quando chegou ao hospital, por volta das 18h da última sexta-feira, já era fato que Vida teria os filhotes por cesária. Sua barriga assustava os mais experientes veterinários pelo tamanho desproporcional ao seu corpo. Dentro do centro cirúrugico aquele alvoroço, dois dos auxiliares chegaram a apostar no número de filhotes, mais nenhum se quer chegou perto. Aberta a cavidade, começou-se a retirada das crianças uma a uma.

Terminada a contagem, eram quatorze filhotes pesando entre 400 e 450g, do menor para o maior. Ainda anestesiada, Vida foi levada até o internamento e os filhotes começaram a disputa por leite, já que eram 5 pares de tetas, para 14 famintos. Passados 40 minutos, ela abriu os olhos e percebeu seus filhos se esbulfelando entre uma teta e outra. Boa mãe, a cadela não demorou a organizar o furdunço. Não fosse o final dessa história, tudo seria perfeito, Vida teria tido auta na manhã seguinte e voltaria para granja onde morava com sua dona e Chico, pitbull, pai da ninhada. Eis que às 4h da madrugada, a cadela foi tomada por uma inquietação, dispnéia (respiração irregular), e uma taquicardia incontrolável. Não demorou até o animal ter a sua primeira parada cardíaca.

Imediatamente a ressucitamos mediante massagem cardiáca e drogas, e ela deu um pequeno sinal de que iria sobreviver. Dez minutos depois, o Vida teve uma nova e fulminante parada morrendo súbitamente, deixando 14 filhotes e uma dona inconsolável. Sentei-me ao lado do canil e peguei os filhotes um a um, quando me veio a ira típica de quem se pergunta o porquê do acontecido. Passado o aperreio, concluímos que a causa morte foi uma Hipocalcemia, seguida de uma eclampsia, além de uma série de outras complicações pré e pós parto, relativamente comuns numa prenhez de risco como a dela. Hoje, as crianças estão aos cuidados de Zizi, uma vira-latas que foi abandonada prenha no hospital, cuja prole morreu logo depois do parto. Com todo meu cetiscismo, não posso deixar de admitir que Deus escreve certo por linhas tortas, concordas?!