06 julho 2011

Tarde DEMAIS

- Tú sabes o que ele inventou, fez de gols e mudou a história do Vasco?!
- Como?
Foi assim que meu pai, Neto de Olavo, se referia a Roberto Dinamite. Ele me convenceu de que torcer pelo Vasco era muito mais que simples "continuidade". Embora entendesse porra-nehuma de futebol eu aderi prontamente aos anseios de meu pai. Virei a casaca aos oito anos de idade. De flamenguista a vascaíno em um piscar de olhos. Esqueça Zico, Andrade e todos os outros ídolos flamenguistas!!! Eu era vascaíno desde criancinha!! 
Aprendi muitas coisas com meu "finado" pai.
Rapaz de belos olhos castanho-escuro, barriga saliente, humor inconfundível, sempre fez o que tinha vontade. Em plena crise financeira a la Sarney, abandonava o próprio negócio para juntar-se aos amigos nas boemias e política local. Era campeão de porrinha!! Grandes merda!! Se fudeo. Ou melhor, nos fudeo!! Meu pai era afoito. Morreu cedo, se quer me ensinou a tirar a barba do rosto! Mal sabia ele que meu avô materno, Seu Anchieta, seria meu verdadeiro pai mais tarde.
Não gosto de falar do meu pai. Outro dia me peguei pensando nele. Me olho no espelho e me acho parecido com ele. Pura ilusão!! Até branco ele era!!! Depois de casar com minha mãe, meu pai logo povidenciou a família! Eu, depois de quinze meses de casado. Depois seguiram-se minhas irmãs, cada uma, no mesmo intervalo.  Moramos de aluguel a vida inteira. Se bem que até onde me lembro ele não gostava de pagar aluguéis. Talvez isso fizesse parte de seu ideário comunista!!! Quem sabe isso tenha justificado meu voto em Lula 10 anos depois... (Djabo é?!) Lembro-me de uma fofoca ele dizer: "O que interessa se o rapaz tem namorado ou namorada?". Muito moderno Seu Neto de Olavo!! E certo, pois...
Hoje se meu pai me visse trabalhando em um banco ele diria: "Ou você surtou ou está morrendo de fome!!".  Morrendo de fome ainda não, mais que sabe eu tenha mesmo surtado! Sinto falta dele. Lembro-me vagamente da figura de meu pai. Minha mãe disse que eu me parecia com ele. Talvez só fisicamente. Quando abro o sorriso no meio da embreaguez, reza-lenda,  sou ele cagado-e-cuspido!!  Ele morreu na noite de Natal de 1992. Ele era meu amigo-secreto. Tinha comprado uma gravata. Ele não gostava de gravatas. Meu pai era sério-engraçado-estranho. Meu pai nunca me deu um abraço. Ele sentiu uma forte dor de cabeça e caiu. Eu tinha tantas coisas para dizer a meu Pai.  
Tarde demais.

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