27 abril 2008

Pequenas COISAS

Essa semana trabalhei três madrugadas seguidas em três plantões. Até então isso nunca tinha acontecido desde que me formei há dois anos. Quando recebi o convite, logo vi que seria um desafio. Meu tradicional plantão semanal do fim de semana multiplicado por três. Três vezes mais stress, mais dores na barriga, ansiedade e medo de falhar. O convívio prático com a medicina tem me ensinado muitas coisas boas e principalmente muitas coisas ruins. Na mesma noite em que se presencia 12 vidas nascerem sob os olhos atentos de uma mãe irremediavelmente dedicada, lamenta-se a morte de outra igualmente importante, apagando-se como lamparina escassa de gás. Aprendi que na minha profissão, sou um mero coadjuvante e que, na grande maioria das vezes, algo infinitamente mais forte e inexplicável é que decide. Lamento óbitos, perco o sono, vejo que sou humano, me entristeço, me julgo despreparado e choro compulsivamente.

Sinto que ainda demorarei a ter a frieza dos veteranos e a entender a morte como parte de um ciclo muitas vezes antecipado pelo que a medicina chama de doença, mal, moléstia ou patologia. Quando vejo a tristeza no olhar de um cão dentro de um canil escuro, soro pendurado, dividindo a angústia ao lado de tantos outros igualmente enfermos e resignados com os seus destinos, me compadeço e ás vezes até rezo (coisa que não sei fazer muito bem), pra que aquele sofrimento seja abreviado o mais rápido possível quer seja por mim, quer seja pela referida força citada. Nesses últimos plantões, aprendi a valorizar pequenas coisas, que antes passavam despercebidos: um balançar de rabo, um miado carinhoso, uma súplica por atenção, coisas que não se nota devido a rotina mecânica e exaustivamente cansativa da clínica. Minha jornada chegou ao fim ontem e eu sobrevivi com um misto de alegria e tristeza. Alegria por estar indo para casa com a sensação do dever cumprido e tristeza por saber que nem todos que deixei vivos, permanecerão nessa condição na semana seguinte ao plantão.

3 comentários:

Anônimo disse...

nao podia deixar de comentar!!!! parabens irmao!!!! raquel

Ronaldo disse...

Cara, é por essas e outras que quem te conhece e convive contigo tem o orgulho de chamá-lo AMIGO!

Um grande, apertado e sincero abraço.

Alexandre Disraelly disse...

Eita