Filhaputice LUSA

Hoje recebi em meu consultório veterinário, o bulldog inglês Camões. O animal estava repleto de seborréia seca. Considerando minha experiência clínica em lidar com esse tipo de problema, prescrevi um shampoo e uma medicação oral. A consulta teria sido rápida e indolor, não fosse seu dono, o Sr. Manoel*, uns setenta e poucos anos, português que mora no Brasil há 2 anos, que e adora expor suas opiniões sobre nosso país. Ao contrário do que dizem sobre portugueses, ele não tem nada de burro. Saiu de Lisboa com uma mão na frente e outra atrás, e em apenas dois anos, já possui dois lavajatos e doze funcionários trabalhando para ele. Manoel* casou-se com uma brasileira e tem um filho de um ano. Até ai tudo bem, nossa relação de médico e dono de animal ia fluindo de maneira cordial. A coisa mudou quando ele resolveu falar mal do Brasil. Aprendi, aliás eu já sabia, que sobre nós os europeus pensam horrores. Se antes eu tinha um pé na xenofobia, agora levanto a bandeira.

Segundo Sr. Manoel*, somos um país de gente preguiçosa e burra, metida a esperto, que só sabe vadiar, pedir, levar nas coxas e trabalhar que é bom, nada. Ouvi tudo aquilo calado, suando, preferi o silêncio a entrar em discussão. Ouvi tudo como uma mãe que escuta um vizinho falar de seu filho e engole seco. No final da consulta ele pediu desconto e claro, eu neguei. Falei que embora ele tenha generalizado, no Brasil, tem sim muita gente honesta, que trabalha pra pagar as contas, que rala de sol a sol, que estuda, que cria os filhos dignamente. Aqui não fazemos distinção de cor ou raça, recebemos portugueses, afegãos, hindus e xiitas, com a mesma simpatia e respeito e se somos subdesenvolvidos, devemos isso em parte, aos escrotos de nossos colonizadores que vinham aqui só flertar com nossas índias e roubar o que a gente tinha de melhor. Ele me olhou incrédulo e finalizou a conversa dizendo a sua esposa: - Tá vendo como são mal educados?! Passar bem, Doutor, até nunca mais... Até nunca mais seu Manoel*, até nunca mais mesmo.