Sobre SODA PRETA

A soda preta ou broa de rapadura ou como a gente dizia no tempo em que morava nos Cordões lá em Mossoró, a famijerada, idolatrada, salve-salve ó bolacha preta, é uma iguaria genuinamente nordestina sem autoria definida, feita a base de farinha de trigo, fermento e melado de rapadura. Rapaz, essa bicha misturada com café preto às 15:30h acompanhado de uma novela do Vale a Pena Ver de Novo, homi, é bom demais!! Como disse, o vício foi adquirido ainda criança, na minha tribo lá dos Cordões, entre a baxinha e o Abolição II, em Mossoró. Minha mãe dava uns cruzados-novos a nossa do lar e tascava-lhe a ordem: "Não volte sem a bolacha preta do lanche dos meninos...". E assim era feito. Eu como toda boa mundiça, enfiava as venta nas bicha, bebia um Ki-Suco de groselha com açúcar até formar borra e depois era só esperar a dor de barriga. Essa vinha com gosto e não estava nem ai.

Depois do alfinim, da banana com casca escura quase preta, do suco de laranja "meio amargo" e da creme-crake, a bolacha preta era, impreterivelmente o meu lanche favorito da escola. Tirava a bichona da lancheira, enquanto meus amigos degustavam bolachas wafes ou negresco, e dizia para eles levantando o bolachão: "Tomai e comei...", fazendo alusão ao que o padre fazia na igreja aos domingos, com o que eu acreditava ser uma "broa" branca. Todos davam gargalhadas até a professora, uma católica fervorosa, míope de dar dó, saia comprida, chegar e me repreender dizendo que eu blasfemava contra o Senhor. Espia só, eu tinha 7 anos, era uma criança, não sabia nem o que djabo era blasfemar... Então, se você ainda não comeu a bolacha preta, não demore, será uma experiência única em sua vida, algo só comparado a camarão no alho e óleo e cerveja gelada num dia de sol na praia. A receita é essa, depois você me conta se gostou.